O velho, o bobo e o louco: Ensaio sobre a representação da loucura em Rei Lear

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Pedro Süssekind

Resumo

Este ensaio procura mostrar que a abordagem da loucura em Rei Lear se desdobra em três manifestações interrelacionadas, correspondentes a três personagens: Lear, Pobre Tom e o Bobo. O primeiro enlouquece em decorrência da senilidade e do choque emocional, o segundo encena o desvario de um possesso, e o terceiro usa ironicamente o nonsense para dizer verdades incômodas. Por meio desses personagens, aparecem em cena formas de explicação da loucura concorrentes: a médica, que se baseava no conceito de melancolia; a religiosa, que a associava à possessão demoníaca; e a satírica, que via a loucura como contraparte do saber racional. Recorrendo ao Elogio da loucura de Erasmo e à História da loucura de Foucault, a hipótese defendida no ensaio é a de que Shakespeare combinou diferentes aspectos da experiência da loucura presentes nas manifestações artísticas do início da modernidade, revelando assim uma relação dialética de loucura e sabedoria.

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Artigos
Biografia do Autor

Pedro Süssekind, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005). Fez pesquisa de doutorado no Departamento de Literatura Comparada da Freie Universität, em Berlim. Atualmente possui bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPQ (nível 2), é Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense e colaborador do Mestrado em Estética e Filosofia da Arte da Universidade Federal de Ouro Preto. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Estética, História da Filosofia e Filosofia Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: estética alemã, poética, filosofia da história e teoria crítica.

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