A crítica de Edward Stillingfleet à teoria lockiana da substância

Conteúdo do artigo principal

Carlota Salgadinho Ferreira
Vinícius França Freitas

Resumo

Neste artigo, pretendemos apresentar uma interpretação sobre a disputa entre John Locke e Edward Stillingfleet, Bispo de Worcester, a respeito da noção de substância. Para tal, após introduzir as teses de Locke que justificam uma interpretação cética de Stillingfleet sobre a existência daquela substância na sua filosofia (seção 1), elucidamos um primeiro equívoco na interpretação do Bispo, que consiste na indistinção entre as noções de substância enquanto ideia complexa de substâncias particulares e como noção de substância pura em geral na filosofia de Locke (seção 2). Depois, apresentamos três teses que ambos os autores parecem ter em comum sobre a noção de substância (seção 3). Na sequência, mostramos que o fato de Locke considerar termos apenas uma ideia confusa da substância enquanto suporte não o compromete com um ceticismo em relação à sua existência (seção 4). Por fim, explicamos um segundo equívoco na interpretação do Bispo, a saber, o de desconsiderar que Locke segue o método experimental de raciocínio subjacente à ciência nova, o que, a juntar ao primeiro equívoco, explica que Locke apenas aplicou esse método à questão da substância e, assim, a possível proximidade entre os autores (seção 5).

Detalhes do artigo

Seção
Varia
Biografia do Autor

Carlota Salgadinho Ferreira, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Professora do Quadro Complementar do Departamento de Filosofia da PUC-Rio e residente pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal Fluminense. Possui doutorado pela PUC-Rio (2020), mestrado (2015) e graduação (2013) pela FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Atualmente, desenvolve pesquisa na área de História da Filosofia Moderna, com ênfase na epistemologia, teoria moral e estética de Hume, mantendo também interesse nas filosofias de Aristóteles, Locke, Malebranche e Kant. Pesquisadora associada ao NUPEM (Núcleo de Pensamento Moderno) PUC-Rio/CNPq e ao Grupo Hume UFMG/CNPq.

Vinícius França Freitas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Sou graduado em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pela Universidade Federal de Uberlândia (2010), mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2012) e doutor em Filosofia (em regime de cotutela) pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (2017). Atualmente, sou residente pós-doutoral (PNPD / CAPES) no Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFMG, coordeno as reuniões do Grupo Ceticismo Moderno / CPNq no Departamento de Filosofia da mesma instituição e coedito a Revista Estudos Hum(e)anos (ISSN 2177-1006). No âmbito da pesquisa, participo como pesquisador associado do Grupo Hume UFMG / CNPq e do PHARE / Universisté Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Meus estudos estão voltados para a área de História da Filosofia Moderna, com ênfase em empirismo britânico, filosofia do senso comum e teorias da consciência, trabalhando principalmente sobre os pensamentos de John Locke, George Berkeley, David Hume e Thomas Reid. No campo da docência, tenho experiência como professor tanto no ensino básico quanto no ensino superior (graduação e pós-graduação).

Referências

AARON, R. (1955). John Locke: Second Edition. Oxford: Claredon Press.

AYERS, M. R. (1975). The Ideas of Power and Substance in Locke’s Philosophy. In: The Philosophical Quarterly. Volume XXV, número 98, pp. 01-27.

BROWN, S. (1996). Locke as Secret ‘Spinozist’: The Perspective of William Carroll. In: Disguised and Overt Spinozism around 1700. Wiep Van Bunge e Wim Klever (Editores). Leiden / New York / Koln: E.J. Brill, pp. 213-234.

CAREY, D. (2017). John Locke, Edward Stillingfleet and the Quarrel over Consensus. In: Paragraph. Volume XL, número 1, pp. 61-80.

CARROLL, R. T. (1975). The Common-Sense Philosophy of Religion of Bishop Edward Stillingfleet (1635-1699). The Hague: Martinus Nijhoff Publishers.

CARTER, S. (1947). Edward Stillingfleet: A Pioneer of Reunion. In: The Churchman. Volume LXI. London: Church Book Room Press, LTD., pp. 118-126. Disponível em:

https://biblicalstudies.org.uk/pdf/churchman/061-03_127.pdf

FLAGE, D. (1981). Locke’s Relative Ideas. In: Theoria. Volume XLVII, número 3, pp. 142-159.

FREITAS, V. & SALGADINHO, C. 2023a. A teoria da substância no ‘Ensaio sobre o Entendimento Humano’ de John Locke. In: Trans/form/ação. Volume XLVI, pp. 35-60.

FREITAS, V. & SALGADINHO, C. 2023b. A defesa de John Locke da teoria da substância na Primeira ‘Carta’ a Edward Stillinglfleet. In: Veritas (Porto Alegre). No prelo.

FORRAI, G. (2010). Locke on Substance in General. In: Locke Studies. Volume X, pp. 27-60.

HUTTON, S. (1996). Edward Stillingfleet and Spinoza. In: Disguised and Overt Spinozism around 1700. Wiep Van Bunge e Wim Klever (Editores). Leiden / New York / Koln: E.J. Brill, pp. 261-274.

JOLLEY, N. (2015). Locke’s Touchy Subjects: Materialism and Immortality. Oxford: Oxford University Press.

KIM, H. (2019). Locke’s Ideas of Mind and Body. New York e London: Routledge.

KORMAN, D. (2010). Locke on Substratum: A Deflationary Interpretation. In: Locke Studies. Volume X, pp. 61-84.

LOCKE, J. (1999). An Essay concerning Human Understanding. Peter H. Nidditich (Editor). Oxford: Clarendon Press.

LOCKE, J. (1999). Ensaio sobre o Entendimento Humano. Eduardo Abranches Soveral (Tradutor). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

LOCKE, J. (1824). The Works of John Locke. Volume III. London: C. and J. Rivington. Disponível em: https://oll.libertyfund.org/title/locke-works-of-john-locke-vol-3

MABBOTT, J. D. (1973). John Locke. London e Basingstoke: Macmillan Education.

MILLICAN, P. (2015). Locke on Substance and Our Ideas of Substances. In: Locke and Leibniz on Substance. Paul Lodge e Tom Stoneham (Editores). New York e London: Routledge, pp. 08-27.

POPKIN, R. (1971). The Philosophy of Bishop Stillingfleet. In: Journal of the History of Philosophy. Volume IX, número 3, pp. 303-319.

SPELLMAN, W. M. (1997). John Locke. New York: Macmillan Education.

STILLINGFLEET, E. (1697). A Discourse in Vindication of the Doctrine of the Trinity: With an Answer to the Late Socinian Objections against it from Scripture. London: Printed by I. H. for Henry Mortlock at the Phoenix in S. Paul's Church-yard. Disponível em:https://quod.lib.umich.edu/e/eebo/A61548.0001.001/1:5.10?rgn=div2;view=fulltext;q1=Trinity+--++Early+works+to+1800

STUART, M. (2016). The correspondence with Stillingfleet. In: A Companion to Locke. Matthew Stuart (Editor). Malden / Oxford / West Sussex: Wiley-Blackwell, pp. 354-370.

WELCH, D. (2003). Defoe’s ‘A True Relation’, Personal Identity, and the Locke-Stillingfleet Controversy. In: Studies in Philology. Volume C, número 3, pp. 384-399.

YOLTON, J. (1968). John Locke and the Way of Ideas. Oxford: The Claredon Press.

YOLTON, J. (2010). Locke and the Compass of Human Understanding: A Selective Commentary on the ‘Essay’. New York: Cambridge University Press.