Colapso climático e a destruição do futuro

Conteúdo do artigo principal

Rafael Mofreita Saldanha

Resumo

Pretende-se explorar aqui alguns efeitos do colapso climático sobre nossa experiência do tempo. A hipótese aqui levantada é que as alterações antrópicas da estabilidade da Terra afetam a maneira como nos relacionamos com o futuro, pois a própria ideia de futuro se encontraria comprometida. Partiremos da noção de “estratos do tempo,” elaborada por Koselleck, para pensar em que medida essa crise afeta a nossa experiência do tempo. Antes disso era possível pensar a nossa experiência do tempo e da história como sendo construída a partir de certas repetições que serviam como fundo para acontecimentos. O colapso climático põe em questão essa imagem de um fundo, já que as repetições tomadas como naturais passam a ter seus ritmos alterados. Ao final do artigo, esboçaremos a proposta de uma espécie de disposição temporal alternativa, possibilitada por alguns elementos do pensamento ameríndio a partir de Danowski e Viveiros de Castro.

Detalhes do artigo

Seção
Artigos
Biografia do Autor

Rafael Mofreita Saldanha, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Atualmente sou professor substituto do departamento de filosofia na UFRJ. Cursei graduação (bacharelado e licenciatura) e mestrado e doutorado em Filosofia na UFRJ (PPGF-UFRJ). Durante o mestrado me foquei no conceito de perspectivismo (a partir de Nietzsche e de Viveiros de Castro) como uma possibilidade de reabilitar a filosofia como prática. Continuando as pesquisas anteriores, no doutorado trabalhei o conceito de afeto (via Spinoza, Deleuze e Guattari) para pensar o sentido da prática filosófica nos tempos atuais, isto é, um tempo em que o a nossa experiência do futuro se encontra comprometida tanto pela dominação social exercida pelo Capital como pela crise climática. Fora isso meus interesses se situam na área de Filosofia como um todo, com ênfase em Metafísica e Ética. 

Referências

ARANTES, P. O novo tempo do mundo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014.
BENANAV, A. Automation and the future of work. Londres: Verso Books, 2020.
CHAKRABARTY, D. “O clima da história: quatro teses”. Sopro, vol. 91, p. 8. jun. 2013. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2017.
COSTA, A. Guerra e paz no Antropoceno: uma análise da crise ecológica segundo a obra de Bruno Latour. Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2017.
COSTA, A. Cosmopolíticas da Terra: Modos de existência e resistência no Antropoceno. 2019. 304. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia, 2019.
CRUTZEN, P; STOERMER, E. “The ‘Anthropocene’”. IGBP Newsletter. Vol. 41, maio 2000. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2017.
DANOWSKI, D; Viveiros de Castro, E. Há mundo por vir?. Florianópolis: Cultura e Barbarie, 2014.
KOSELLECK, R. Estratos do tempo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014.
IRELAND, A. The poememenon: form as occult technology. 2017. Disponível em: . Acesso em 14 set. 2017
LATOUR, B. Facing gaia. Cambridge: Polity Press, 2017.
LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Papirus Editora, 2012.
LOVELOCK, J. The vanishing face of Gaia: a final warning. Nova Iorque: Basic Books, 2009.
SCHELLING, F. Ideas for a philosophy of nature. Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
SRNICEK, N.; WILLIAMS, A. Inventing the future: postcapitalism and a world without work. Londres: Verso Books, 2016.
STENGERS, I. No tempo das catástrofes. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais. São Paulo: Cosac Naify, 2015.